Os Alpes marcam a história e a paisagem dessas duas regiões localizadas no Norte da Itália. O nome Piemonte vem de “pé do monte” e o cume mais alto da Europa Ocidental, o Monte Bianco (4.810 metros), domina o panorama do Valle d’Aosta. As montanhas nevadas compõem esplêndidos cenários, formados por castelos de várias épocas, charmosos vilarejos e colinas repletas de vinhedos.
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A cidade de Turim, no Piemonte, e a região do Parque Nacional Gran Paradiso, no Valle d'Aosta (fotos: Shutterstock)
Começamos o nosso roteiro em Turim, a capital do Piemonte, importante centro urbano desde a época dos romanos, berço da unificação do país no século 19 e pioneiro pólo industrial. O passeio tem início na elegante Via Roma, passando por belas praças (San Carlo e Castello) até chegar ao Palácio Reale e ao Duomo (onde está a réplica do Santo Sudário). Também conhecemos o bairro de Lingotto, que no passado abrigava a Fabbrica Italiana Automobili Torino (FIAT), transformada em centro comercial e cultural. O almoço ocorre no interior da Eataly, a primeira loja da cadeia mundial, instalada no prédio de uma antiga fábrica de bebidas.
Atrações de Turim: No alto, a Praça Castello, com o Palácio Reale ao fundo, e a Praça San Carlo. Abaixo, o Duomo e a Via Roma (fotos: 1- Teojab/Pixabay; 2- Riccardo Speziari/Wikimedia; 3- Groumfy69/ Wikimedia; 4- Rene Boulay/Wikimedia)
No dia seguinte, a primeira parada é em Asti, cidade que empresta seu nome a um dos vinhos mais populares da região, o Moscato. Esse espumante levemente adocicado e de baixa graduação alcoólica, além da harmonização com sobremesas, pode ser degustado como aperitivo nos bares do Centro Histórico. Na vizinha Costigliole d’Asti, visitamos a sede da ICIF, escola de culinária italiana para formação de profissionais estrangeiros, localizada no interior de um lindo castelo. Além de conhecer suas belas instalações, vamos acompanhar a preparação de um prato típico que será servido em nosso almoço.
O Centro Histórico de Asti e o castelo de Costigliole d'Asti (fotos: Shutterstock e Elio Maltoni/Wikimedia)
Atravessando a divisa entre as duas regiões, visitamos Aosta, capital do Valle d’Aosta. A cidade, fundada pelos romanos com o nome de Augusta Praetoria Salassorum por volta de 2.500 a.C. e conhecida como a Roma dos Alpes, conserva vários monumentos da época do antigo império, como o Arco de Augusto e o Teatro Romano. Seguindo pela estrada em direção a Cogne, admiramos paisagens espetaculares, compostas pela vegetação do Parque Nacional Gran Paradiso e os cumes das montanhas ao fundo. Finalizamos a jornada com um jantar especial, degustando vinhos e pratos da tradição regional.
Ruínas do Teatro Romano, em Aosta; o Castelo de Fénis, próximo da capital da região; e uma área do Parque Nacional Gran Paradiso nas imediações de Cogne (fotos: 1- Shutterstock; 2- Nonmisvegliate/Pixabay; 3- Reipen/Pixabay)
O dia será dedicado para conhecer a encantadora Courmayeur, a cerca de 1.200 metros acima do nível do mar. Na fronteira com a França, ao lado do majestoso Monte Bianco, a cidade é um dos destinos de inverno preferidos dos praticantes de esqui, mas também entusiasma os turistas que caminham pelo seu gracioso e florido centrinho nos meses de primavera e verão. A visita é complementada no passeio de teleférico, com panoramas impressionantes das montanhas. Nosso almoço do dia tem como destaque os queijos típicos da região, a exemplo do inigualável fontina e o bleu d’Aoste.
A cidade de Courmayeur vista do alto e o teleférico do Monte Bianco (fotos: Claudio Romeo/Pixabay e Steddie1970/Wikimedia)
Voltamos ao Piemonte para visitar a Reggia de Venaria Reale, a maior das residências da família Savoia, patrimônio da humanidade reconhecido pela Unesco, em 1997. Projetada no século 17 pelo arquiteto Amedeo di Castellamonte, a obra teria inspirado a reconstrução do Palácio de Versailles, na França, com o qual foi sempre comparado. A viagem continua através do território conhecido como Langhe, caracterizado por rios e colinas repletas de vinhedos. Almoço durante o percurso e chegada no final da tarde em Alba, cidade conhecida internacionalmente como a “capital do tartufo branco”.
A Reggia de Venaria Reale; as famosas colinas de Langhe; e um dos acessos ao Centro Histórico de Alba (fotos: 1- Shutterstock; 2- Shutterstock; 3- Virginia Scarsi/Wikimedia)
Para conhecermos melhor os vinhos do Piemonte, visitaremos Grinzane Cavour e sua enoteca, no interior de um castelo. Construído no século 13, o local foi residência de Camillo Benso, o conde de Cavour, herói da unificação da Itália. A segunda parada será em Barolo, para almoço e tour na histórica vinícola Marchesi di Barolo, primeira a produzir o vinho que ganhou o nome dessa localidade. A adega deles conserva safras preciosas do famoso “rei dos vinhos e vinho dos reis”. Finalizamos o passeio entre os vinhedos das colinas de Langhe, com uma parada em La Morra para apreciar o panorama da região.
O castelo de Grinzane Cavour; um panorama da cidade de Barolo; barris de vinho da Marchesi di Barolo; e vista de La Morra (fotos: 1- Lm 1909/Wikimedia; 2- Megan Cole/Flickr; 3- Divulgação/Marchesi di Barolo; 4- Andrea Marchisio/Wikimedia)
A viagem pelo interior do Piemonte continua até a cidade de Bra, onde nasceu o Slow Food, movimento criado em 1986 para promover o prazer de uma refeição e valorizar ingredientes locais, pequenos produtores e o respeito ao meio ambiente. A poucos quilômetros do Centro Histórico, encontra-se a Agenzia di Pollenzo, conjunto de prédios com um belo palácio do século 19, que abriga a Universidade dos Estudos de Ciências Gastronômicas e a Banca del Vino. O almoço será no Albergo dell’Agenzia, com um menu regional que inclui produtos certificados pela Fundação Slow Food, como a salsiccia di Bra, linguiça com 80% de carne bovina.
Região central da cidade de Bra (foto: Davide Papalini/Wikimedia)
O último dia de passeios é reservado para visitar a pequena Barbaresco e Canelli, localizada no Monferrato, território conhecido pela produção de vinho e pelo cultivo de avelã. A primeira parada ocorre na cidade que deu origem ao Barbaresco, outro famoso vinho do Piemonte, para visitar a pitoresca enoteca local, instalada no interior de uma antiga igreja. Seguimos depois para Canelli, a fim de conhecer a adega histórica da tradicional vinícola Coppo e degustar três tipos de Barbera. O almoço de despedida é realizado em restaurante nas colinas próximas da cidade, com bela vista para os vinhedos.
A enoteca no interior de uma antiga igreja, em Barbaresco, e um panorama da cidade de Canelli (fotos: Paul Arps/Wikimedia e Pxhere)
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AS DUAS REGIÕES NO MAPA DA ITÁLIA
Piemonte e Valle d'Aosta
PIEMONTE E VALLE D'AOSTA EM VÍDEO
Piemonte
Valle d'Aosta
PIEMONTE E VALLE D'AOSTA À MESA
Sabores marcantes das duas cozinhas
Piemonte
Trufas (tartufi)
foto: Ao Sabor da Letra
O visual está longe de ser a característica mais atraente destas representantes do reino dos fungos. Como elas crescem abaixo da superfície, associadas às raízes das árvores, podem ser confundidas com tubérculos, como a batata. A dependência de agentes externos para a sobrevivência das trufas (tartufi) na natureza, acabou definindo o principal atributo delas: um intenso aroma. Esse forte "perfume" consegue atrair animais, que as desenterram, se alimentam delas e, nesse processo, liberam esporos no solo, dando origem a novas trufas. Porcos ficam alucinados por elas e já acompanharam incursões dos trifulai (caçadores de trufas). Mas, como esses suínos apreciam a trufa tanto quanto os humanos, cães amestrados os substituíram na função de descobridores desses tesouros enterrados. O termo "tesouro", aliás, não parece um exagero quando o assunto é a trufa branca (Tuber magnatum pico). Há nove tipos de trufas no território italiano, colhidas em épocas variadas do ano, mas a trufa branca de Alba, no Piemonte, merece o termo "pepita" para as suas unidades e o apelido de "ouro branco". Esse tipo amadurece entre final de setembro e dezembro e já registrou, em leilões, um lance de 100 mil euros para uma única pepita de 900 gramas. Na gastronomia italiana, lascas de trufas dão perfume e sabor únicos para preparos com ovo e polenta, além de pastas e risotos.
Brasato al barolo
foto: Shutterstock
Numa região conhecida pelos vinhos de alta qualidade, não poderia faltar uma receita que levasse o fermentado de uvas na composição. O preparo do brasato al barolo, um famoso secondo piatto piemontês, começa um dia antes de servi-lo. Nesse processo, uma peça de carne (tradicionalmente da porção dianteira do boi) é envolta em pancetta e marinada numa mistura constituída por uma garrafa de vinho Barolo (obviamente, os piemonteses usam exemplares mais simples da bebida), cenoura, salsão, cebola, alho, canela, sal, pimenta e temperos verdes, como alecrim, tomilho e louro. Depois de 24 horas, a peça de carne ganha uma leve cobertura de farinha de trigo e vai para uma panela grande, onde doura antes de ser mesclada novamente à marinada. Mais uma hora de cozimento e o molho sai da panela para ser processado e, na sequência, encorpado ao fogo – com a adição de meio cálice de brandy. Na hora de servir, a peça é fatiada e regada com seu molho quente. Polenta e purê de batata são ótimas guarnições para a receita.
Valle d'Aosta
Queijo fontina
foto: Shutterstock
Mais do que um ingrediente, o queijo fontina é um símbolo valdostano – e orgulho dos habitantes da região. Produto D.O.P. (Denominação de Origem Protegida) feito com leite bovino, ele tem casca marrom-alaranjada, massa mole, alto teor de gordura (cerca de 45%), sabor levemente doce e um período de envelhecimento que pode durar seis meses. Entre os cuidados na elaboração está a regra de que as vacas devem ser ordenhadas no máximo duas horas antes do uso do leite delas na fabricação do queijo. Acrescido em sopas gratinadas, polentas, massas e carnes, o versátil fontina é protagonista numa clássica receita local, a fonduta. Trata-se de uma saborosa espécie de fondue, que ainda traz na composição leite, manteiga e gema de ovo.
PIEMONTE E VALLE D'AOSTA EM FILMES
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Piemonte
Um Golpe à Italiana (1969)
Uma quadrilha de ladrões ingleses, liderados por Charlie Crocker (personagem de Michael Caine), organiza um espetacular assalto em Turim. Sabotando os computadores do controle de tráfego da cidade, o grupo alcança o objetivo de roubar um carro-forte repleto de barras de ouro e empreende uma fuga alucinante pelas ruas da capital piemontesa. O momento mais emocionante tem como cenário a pista de testes da Fiat, no teto da antiga fábrica de Lingotto, onde três Mini Cooper ficam lado a lado em uma de suas curvas parabólicas. Dirigido por Peter Collinson, o filme é considerado um clássico do cinema britânico. O remake de 2003, com o título original (The Italian Job), foi lançado no Brasil com outro nome: Uma Saída de Mestre.
Uma Questão Pessoal (2017)
Filme baseado no livro homônimo de Beppe Fenoglio, escritor natural de Alba. A narrativa original se passa em 1943 no território conhecido como Langhe, mas a maior parte das filmagens foi realizada no vizinho Valle Maira. Na ocasião, os diretores Paolo e Vittorio Taviani justificaram a troca das localidades: não seria possível reproduzir o cenário da época (Segunda Guerra Mundial) em meio a tantos vinhedos. Já a trama se manteve fiel, com o partigiano Milton (interpretado por Luca Marinelli) dividido entre a luta com os nazi-fascistas, a amizade com seus companheiros de brigada e o amor clandestino por Fulvia (Vallentina Bellè). O filme foi o último dirigido em dupla pelos irmãos Taviani: Vittorio faleceu alguns meses após o seu lançamento, em abril de 2018.
Valle d'Aosta
Kingsman: O Círculo Dourado (2017)
Segundo filme da série Kingsman, sequência de O Serviço Secreto (2014). Após a destruição de seu quartel general na Grã-Bretanha, os agentes secretos descobrem uma sociedade aliada nos Estados Unidos, a Statesman. As duas organizações unem suas forças para salvar o mundo e derrotar Poppy (Julianne Moore), a maior traficante internacional de drogas. O diretor Matthew Vaughn escolheu o Valle d'Aosta para rodar as cenas mais marcantes deste longa-metragem. Em Courmayeur, as filmagens foram realizadas com uma equipe de mais de 100 componentes, mesclando ação e as imagens fantásticas do Monte Bianco.
Il Peggior Natale della mia Vita (2012)
A comédia fez sucesso nos cinemas italianos e atingiu quase 6 milhões de telespectadores quando foi exibida pela primeira vez na televisão, no final de 2013. Este filme é uma continuação de La Peggior Settimana della mia Vita (2011), que aborda a semana anterior ao casamento dos mesmos personagens. Desta vez, a família de Margherita (interpretada por Cristina Capotondi) é convidada por Alberto (Diego Abatantuono) para passar o Natal no castelo dele, em Gressoney, Valle d'Aosta, aos pés do Monte Rosa. Paolo (Fabio De Luigi), marido de Margherita, grávida de nove meses, chega posteriormente e apronta uma confusão atrás da outra para desespero de seu sogro Giorgio (Antonio Catania), que trabalha na empresa do dono do castelo.
PIEMONTE E VALLE D'AOSTA EM LIVROS
Piemonte
Baudolino (Umberto Eco)
O livro conta a história de Baudolino, nascido no século 12 no interior do Piemonte, em Frascheta, onde posteriormente surgiria a cidade de Alessandria, terra natal de Umberto Eco. Aos 13 anos, em 1154, o garoto foi adotado por Frederico I, o Barba Ruiva, iniciando uma saga que vai desde a coroação desse imperador à invasão de Constantinopla pelos cruzados. Baudolino se torna um mentiroso contumaz, porém, como um encanto, tudo o que ele inventa acaba se realizando, a exemplo da canonização de Carlos Magno. O autor cria um romance picaresco e, ao mesmo tempo, rico de informações históricas, mitos, tradições e lendas medievais.
A Lua e as Fogueiras (Cesare Pavese)
O romance é narrado na primeira pessoa pelo protagonista, apelidado Anguilla (Enguia). Depois de viver muitos anos nos Estados Unidos e ficar rico, ele decide voltar para o seu povoado natal, nas colinas do Piemonte. A narrativa começa com os primeiros momentos da vida de Anguilla, que foi abandonado pela mãe na porta do Duomo de Alba. Guiado pelo amigo Nuto, ele revê os lugares onde cresceu, relembra a sua sofrida juventude e descobre que muitas pessoas se foram, inclusive Irene. Cesare Pavese escreve com sentida emoção a solidão de um homem, que não conseguiu ser feliz mesmo depois de enriquecer e voltar às suas origens.
Valle d'Aosta
Le Catene di Eymerich (Valerio Evangelisti)
Publicado em 1995, o livro é o terceiro da saga que tem como protagonista o jovem padre dominicano Nicolas Eymerich. Em 1360, já como Inquisidor Geral do Reino de Aragão, Eymerich, com 40 anos, é enviado para uma missão no Valle d'Aosta. Ali, no povoado de Châtillon, encontra uma comunidade de cátaros, refugiados após sobreviverem à inquisição. Nessa história, que vai muito além da simples perseguição aos hereges, Valerio Evangelisti funde narrativa histórica, ficção, política e romance. A missão de Eymerich ganha contornos gigantescos, interligando episódios de várias épocas, desde a Idade Média, passando pela Alemanha Nazista até a libertação da Romênia da tirania de Ceausescu.
Valgrisenche – Nel Silenzio del Ricordo (Amos Cartabia)
Depois de 29 anos, uma mulher que mora em Valgrisenche, contata, por meio do Facebook, um grupo de pessoas que acamparam juntas em 1984. São jovens que se tornaram adultos em suas cidades de origem e ainda guardam belas lembranças daquelas férias de verão. Ao se reunirem, enfrentam um problema que parecia apagado pelo tempo. O livro é dividido em duas partes. A do passado, quando o protagonista Andrea tinha apenas 14 anos, narra seu amor pela natureza, os passeios pelas montanhas e como conheceu a primeira namorada. A segunda, ambientada em 2013, exalta o estado de espírito dos personagens diante de uma realidade que os assusta: uma série de homicídios ligada ao passado deles.
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