Uma região abriga a capital da Itália e o Vaticano; a outra tem algumas das praias mais bonitas do Mediterrâneo. Ambas são ricas de história, escrita pela grandeza do Império Romano no continente e pelos vários povos que habitaram a ilha. As colinas e as montanhas também caracterizam as paisagens do Lazio e da Sardegna, com castelos, vinhedos e rebanhos de ovelhas.
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Roma, capital do Lazio e do país, e Cala Corsara, na Sardegna (fotos: Shutterstock)
Começamos nosso roteiro na cidade de Olbia, porta de entrada da Costa Smeralda. A partir de lá, percorremos um itinerário com paisagens cinematográficas, formadas por praias de areias claras e mar esverdeado, ao lado de localidades charmosas como Porto Rotondo, Porto Cervo e Baia Sardinia. Trata-se de uma faixa litorânea frequentada por celebridades do mundo inteiro, que se hospedam em suas próprias mansões, em hotéis de luxo ou nos grandes iates que ficam ancorados nas marinas. Nesta jornada, fazemos um almoço à base de pescados num restaurante com vista para o mar.
Trecho litorâneo em Olbia; construções em Porto Rotondo; marina em Porto Cervo; e praia em Baia Sardinia (fotos: 1- Lutz6078/Pixabay; 2- Okologix/Wikimedia; 3- Nucleo600/Pixabay; 4- Winkelbohrer/ Flickr)
No dia seguinte, saímos em direção ao extremo Norte da ilha, com parada em Palau, onde admiramos a vista a partir do Capo d’Orso, formação rochosa que lembra a figura de um urso. De lá, viajamos até Santa Teresa Gallura, apreciando a estupenda paisagem formada pelo mar e o arquipélago de Maddalena, entre a Sardegna e a Córsega. Retornamos pelo interior até Tempio Pausania, localidade famosa pela produção de vinhos com a uva vermentino. Nosso almoço ocorre dentro de uma vinícola local, com degustação de dois rótulos de brancos e comidas típicas.
Mistura de cores no mar em Palau; barcos numa enseada em Santa Teresa Gallura; e pórtico de Tempio Pausania (fotos: 1- Shutterstock; 2- Patano/Wikimedia; 3- Gianni Careddu/Wikimedia)
Atravessando a ilha de Norte a Sul, por meio de estrada que corta uma sequência de montanhas e paisagens com fortes tons de verde, viajamos até Oristano. Após uma visita ao Centro Histórico desta cidade, onde se destaca a elegante Praça Eleonora, seguimos para o Golfo de Oristano, famoso pela produção de bottarga (ovas desidratadas de tainha). Provamos essa e outras especialidades sardas num almoço em restaurante típico. A jornada do dia termina com a chegada em Cagliari, capital da Sardegna.
Panorama da cidade de Oristano (foto: Massimo Frasson/Flickr)
Esse dia é dedicado a conhecer Cagliari, começando pela região de seu movimentado porto e subindo até o bairro de Castello, cercado por muralhas do século 12, época em que a ilha esteve sob o domínio da República de Pisa. A Catedral de Santa Maria, um dos pontos mais notáveis e visitados da cidade, e as torres medievais do Elefante e de San Pancrazio, construídas para impedir a invasão Aragonesa, são outros belos monumentos desse período. No almoço, provamos um clássico local: os culingiones, espécie de ravióli recheado com queijo pecorino fresco, batata e menta.
Vista de Cagliari a partir do mar; a Catedral de Santa Maria; e a torre medieval do Elefante (fotos: 1- Larry Koester/Wikimedia; 2- Unukorno/Wikimedia; 3- StephanieAlbert/Pixabay)
O passeio deste dia é para o Norte de Cagliari, em direção a Barumini. Visitamos a zona arqueológica de Su Nuraxi, sítio declarado Patrimônio Mundial da Unesco em 1997. O complexo é formado por ruínas de construções erguidas há mais de 6 mil anos, que vieram à luz em meados do século passado e são consideradas as grandes marcas da civilização nurágica, a mais célebre entre as pioneiras da ilha. Em seguida, no caminho de volta para Cagliari, almoçamos no interior de uma antiga propriedade rural, com degustação de queijo pecorino produzido no local e do porceddu sotto terra, o leitãozinho sardo assado no chão.
Ruínas de Su Nuraxi, em Barumini (foto: Shutterstock)
Deixamos a ilha em avião com destino a Roma, a Cidade Eterna, berço da cultura e da civilização Ocidental. O período da tarde é livre para caminharmos pelas ruas próximas do hotel, localizado entre a Fontana di Trevi e a Praça de Spagna. No começo da noite, partimos para Trastevere, do latim Trans Tiberim, o charmoso bairro além do Rio Tibre. Seus restaurantes e bares com mesas ao ar livre, voltadas para praças animadas e ruelas floridas já serviram de cenário para vários filmes. No jantar, degustamos massas com dois molhos simbólicos da região: all’amatriciana e alla carbonara.
Panorama da cidade de Roma; Fontana di Trevi; Praça de Spagna; e rua de Trastevere (fotos: 1- Shutterstock; 2- Maxsanna/Pixabay; 3- Bradiporap/Pixabay; 4- Shutterstock)
Pela manhã, realizamos um passeio panorâmico pela capital italiana, começando pela Roma Antiga, simbolizada pelo Coliseu, o anfiteatro construído no ano 80 d.C. e dimensionado para receber 75 mil pessoas. Ao lado, vemos o Arco de Constantino e o Fórum Romano. Passamos também pelo parque da Villa Borghese, Praça Veneza, Castel Sant’Angelo e Basílica de São Pedro. Depois percorremos a pé as ruas que separam a Praça Navona do Campo de’Fiori. Almoçamos em uma trattoria típica do Centro Histórico, com pratos que trazem a alcachofra como ingrediente principal.
Atrações de Roma: o Coliseu; o Arco de Constantino; o Fórum Romano; a Villa Borghese; o Castel Sant’Angelo; a Basílica de São Pedro; e a Praça Navona (fotos: 1- Simone_ph/Pixabay; 2- Mozue/Pixabay; 3- StevoLeBlanc/Pixabay; 4- Krzysztof Mariusz Bieganski/Wikimedia; 5- Walkerssk/Pixabay; 6- Carlo75/Pixabay; 7- Djedj/Pixabay)
No último dia de passeios, fazemos o circuito dos Castelli Romani, cidades localizadas nas colinas a cerca de 30 quilômetros do Centro de Roma. Em razão de seu clima ameno, a região é um destino de veraneio desde a época do Império Romano, conquistando, posteriormente, a preferência da nobreza e do alto clero, que lá construíram mansões e castelos. A primeira parada ocorre em Castel Gandolfo, onde fica a residência de verão do Papa. Contornando os lagos de Albano e de Nemi, prosseguimos para Grottaferrata. Após o almoço, visitamos Frascati, cidade que empresta o seu nome ao famoso vinho branco.
A residência papal em Castel Gandolfo; um panorama da cidade de Nemi e a catedral de Frascati (fotos: 1- Shutterstock; 2- Krystianwin/Pixabay; 3- Iessi/Wikimedia)
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AS DUAS REGIÕES NO MAPA DA ITÁLIA
Lazio e Sardegna
LAZIO E SARDEGNA EM VÍDEO
Lazio
Sardegna
LAZIO E SARDEGNA À MESA
Sabores marcantes das duas cozinhas
Lazio
Alcachofras (Carciofi)
foto: Shutterstock
Quem gosta dessa planta de origem mediterrânea, mais especificamente do Norte da África, deve saber que a versão consumida no Lazio é ainda mais interessante do que a encontrada nos mercados brasileiros. O tipo cultivado nas planícies de Viterbo e Latina tem folhas mais largas, consistência macia e um gosto com notas adocicadas. Os habitantes da região, claro, tiram proveito dessas qualidades e a capital Roma consta como o berço de duas famosas receitas com o ingrediente: alcachofras à romana (carciofi alla romana) e à moda judaica (carciofi alla giudia). A primeira é servida sem as folhas – depois de ser cozida em água com azeite – e ganha recheio de farinha de pão, menta, salsinha e alho (aliche e queijo pecorino ralado ainda podem ser acrescidos à mistura). O segundo preparo foi inspirado na maneira que a alcachofra era feita no antigo Ghetto, bairro judeu de Roma. Naquele contexto, ele costumava ser a primeira refeição após o término do Yom Kippur (dia de jejum na religião judaica). Nesta receita, o coração da alcachofra do tipo mammola, característica do Lazio, leva sal e pimenta-do-reino no tempero. Acompanhado das folhas mais tenras, ele passa por uma fritura em azeite antes de ir à mesa.
Espaguete à carbonara (Spaghetti alla carbonara)
foto: Shutterstock
Pode-se dizer que a lista de pastas típicas do Lazio já marca forte presença em cardápios de outras regiões da Itália e do resto do planeta. Molhos como o amatriciana e o cacio e pepe são conhecidos e apreciados em todos os continentes, embora nem sempre associados às suas pastas mais tradicionais (respectivamente, o spaghetti e o tonnarelli). Mas nenhum molho da culinária lacial tem a fama do carbonara. Sua origem levanta polêmica e incita discussões acaloradas. Numa versão muito difundida pelo mundo, o crédito do nascimento do preparo vai para os soldados americanos que lutaram na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1944, após ocupar Roma, eles teriam levado a um cozinheiro local ingredientes disponíveis na ração do exército aliado: noodles (macarrão instantâneo), ovos e bacon. Os combatentes esperavam comê-los separadamente, mas o chef teria misturado tudo num único prato. Parte expressiva dos historiadores italianos discorda dessa versão com tintas românticas. Há, entre muitas hipóteses, defesas de que o carbonara deriva da mais antiga pasta cacio e uova (massa com queijo de ovelha ou de cabra e ovos), de um preparo similar dos carbonai (carvoeiros) da vizinha Abruzzo, de um cozinheiro e literato napolitano chamado Ippolito Cavalcanti (1787-1859) e, até, da Carboneria, uma sociedade secreta e política italiana do século 19. Independentemente dessa questão, os fãs do prato e defensores de suas raízes aceitam algumas variações da massa (vermicelli, bucatini e penne), mas vão protestar contra duas adaptações bem frequentes no Brasil: o acréscimo de creme de leite ao molho e o uso de bacon no lugar do guanciale (bochecha de porco) ou da pancetta (corte da barriga suína; uma alternativa tolerável para os puristas).
Sardegna
Bottarga
foto: Shutterstock
A bottarga é o resultado de um processo que abrange a pesca da tainha (muggine, em italiano), a retirada das ovas do peixe e a salga e secagem delas. Quando pronta, tem alto valor de mercado e status de iguaria – não raramente ela ganha o tratamento de “caviar do Mediterrâneo”. Na Sardegna, a produção começou com a chegada dos fenícios, 3 mil anos atrás, que introduziram as primeiras técnicas. Essa experiência milenar, somada a condições propícias do mar e ao clima seco, trouxeram fama para a bottarga sarda, sem dúvida, um dos tesouros da ilha. De cor âmbar, menos salgada que ovas similares, ela pode ser degustada em fatias, com azeite e um pouco de limão, ou ralada sobre massas e risotos.
Fregola
foto: Emily/Flickr
A fregola é uma das mais famosas pastas sardas, num rol que ainda tem outros tipos pouco difundidos no Brasil, a exemplo dos malloreddus (na versão industrializada é conhecido como gnocchetti sardi) e dos culingiones (massa semelhante ao ravióli). No tipo artesanal, as pequenas esferas de sêmola de trigo são moldadas nas pontas dos dedos e assadas em forno. Em território sardo, normalmente são servidas com arselle (uma espécie de vôngole) ou in brodo (caldo de vegetais ou de carne).
LAZIO E SARDEGNA EM FILMES
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Lazio
A Grande Beleza (2013)
Jep Gambardella (magistralmente interpretado por Toni Servillo), jornalista e escritor de um livro só, faz um balanço retroativo de seus 65 anos de vida. Em busca da “grande beleza”, ele atravessa um longo túnel de recordações e promove festas em sua cobertura com vista para o Coliseu. Com cenas ao estilo “La Dolce Vita” e personagens que remetem à obra de Fellini, o diretor Paolo Sorrentino intercala situações grotescas com discussões filosóficas, comédia com tragédia, em um cenário fascinante, com as ruas, praças e monumentos de Roma. Vale acompanhar o filme até os letreiros finais, com um barco que passa por baixo das pontes do Rio Tibre. A obra conquistou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2014.
Para Roma com Amor (2012)
Essa comédia romântica dirigida por Woody Allen traz quatro diferentes histórias passadas em Roma. A primeira tem como protagonistas um casal de americanos (Woody Allen e Judy Davis) que viajam para a Itália com o intuito de conhecer a família do noivo de sua filha. Outra narrativa traz Leopoldo (Roberto Benigni), que vê a sua vida mudar ao ser confundido com uma celebridade. Um terceiro episódio mostra um arquiteto americano (Alec Baldwin) que faz turismo em Roma. Por último, temos a prostituta Anna (interpretada por Penélope Cruz) envolvida em uma grande confusão com dois jovens recém-casados, que se perderam pelas ruas da capital italiana. Várias cenas foram gravadas no bairro de Trastevere.
Sardegna
007 - O Espião que me Amava (1977)
Dois submarinos nucleares, um inglês e um soviético, somem de todos os radares. Aflito com a possibilidade de tamanho poder cair em mãos erradas, o governo britânico convoca James Bond (Roger Moore) para resolver o mistério. Os russos, por sua vez, escalam a sua melhor agente, Anya Amasova (Barbara Bach), conhecida como Triplo-X. A inimaginável parceria anglo-soviética entra em prática quando a dupla começa a perseguir o magnata da indústria naval Carl Stromberg (Curd Jürgens), um megalomaníaco que deseja construir um império no meio do oceano. O seu quartel-general fica na Sardegna, onde foram realizadas locações na Costa Smeralda, Palau, Santa Teresa Gallura e Alghero.
Piccolo Grande Amore (1993)
Sofia (Barbara Snellenburg), princesa de Liechtenhaus, país imaginário da Europa Central, filha do monarca Maximiliano (David Warner) e órfã de mãe é obrigada a se casar com o príncipe da Saxônia. O matrimônio fora arranjado para sanar as dificuldades financeiras de sua família e do principado. Esperançosa por viver um amor verdadeiro, a jovem foge para a localidade de Baia Sardinia, na Costa Smeralda, onde adquire o codinome Lisa. Aventureira, se torna barwoman em um badalado bar, onde acaba conhecendo o seu verdadeiro amor, o professor de surf Marco (Raoul Bova). O filme é dirigido por Carlo Vanzina e marca a estreia como protagonista do jovem Bova (de Sob o Sol da Toscana).
LAZIO E SARDEGNA EM LIVROS
Lazio
Anjos e Demônios (Dan Brown)
Robert Langdon, professor da Universidade de Harvard, especialista em simbologia religiosa, é chamado para desvendar o assassinato do cientista Leonardo Vetra. No peito da vítima é gravada a palavra “Illuminati”, sociedade secreta rival da Igreja Católica, que se reunia em Roma na época do Renascimento e considerada extinta há quatro séculos. Ao lado de Vittoria, filha adotiva de Vetra, Langdon começa um busca frenética na Cidade do Vaticano à procura do cilindro com a antimatéria, que poderia explodir como uma bomba atômica. Enquanto isso, um membro da Illuminati ameaça assassinar quatro cardeais que participam do colegiado que elegerá o novo Papa.
La Ciociara (Alberto Moravia)
A obra narra a história de Cesira, uma camponesa proveniente da região conhecida como Ciociara, na província de Frosinone, no Sul do Lazio. Após a morte do marido, com a filha Rosetta, de 13 anos, ela tenta sobreviver em Roma durante o período da Segunda Guerra Mundial. Quando o exército alemão se prepara para entrar na cidade, as dificuldades aumentam e, para fugir dos bombardeios, as duas mulheres decidem voltar para o povoado de origem. O que parecia ser a melhor solução se transforma em outro drama. O livro de Moravia foi adaptado para o cinema (no Brasil, exibido com o título “Duas Mulheres”). Sophia Loren, no papel principal, conquistou a Palma de Ouro, em 1961, e o Oscar de Melhor Atriz, no ano seguinte.
Sardegna
Juncos ao Vento (Grazia Deledda)
Um dos maiores sucessos de Grazia Deledda, a segunda mulher a ganhar o prêmio Nobel de Literatura, em 1926. O romance narra a história da família Pintor, um casal com quatro filhas (Ruth, Ester, Noemi e Lia), que moram em Galte, no Nordeste da Sardegna. No começo do século passado, as mulheres deveriam se dedicar apenas aos trabalhos domésticos, mas Lia não aceita essa condição e decide viajar para o continente. O pai, o autoritário Don Zame, fica enfurecido pela desonra, tenta evitar a fuga, mas é encontrado morto na saída do povoado. Desgraça ou delito? Deledda escreve sobre a vida em uma pequena comunidade sarda, com os milenares usos e costumes da ilha, que começava a se modernizar.
O Outro Mundo (Marcello Fois)
No final do século 19, o advogado-poeta Bustianu quer tornar público seu romance com a bela Clorinda Patussi, mas sabe que isso custará o rompimento com sua mãe. Ao mesmo tempo, tenta esclarecer o mistério de uma trágica morte, precocemente classificada pela polícia como homicídio e atribuída ao bandido Dionigi Mariani. O acusado procura Bustianu para provar a sua inocência no caso. Na região central da Sardegna, nos montes da Barbagia, surgem alguns fatos favoráveis à defesa, mas são ignorados pelas autoridades. Mesmo assim, o advogado continua a sua batalha contra as tradições familiares e o conservadorismo das instituições e da população local. Marcello Fois é considerado um dos melhores autores do gênero policial.
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